Elyane Lacerdda: Reveillon Inusitado (Maria Aparecida Marfori)

Seria apenas mais um réveillon como muitos outros se não fosse o ocorrido.

Eu nunca tinha entrado naquele mercadinho de bairro. Definitivamente, mercados apertados não me atraem. Entrei a contragosto a pedido da minha amiga, Célia, para fazer o restinho de compra que faltava para a ceia.

Estava atravessando uma época difícil e o mau humor me acompanhava. No entanto, já havia feito as pazes com Deus e me conformado com o meu destino de vida solitária. Afinal, o amor não era mesmo para mim.

E lá estava eu, com o meu mau humor costumeiro, já no caixa, quando ouço uma voz, atrás, comentar:

-Desculpa, sei que você já deve ter ouvido isso umas mil vezes, mas você é uma mulher deslumbrante.

A minha primeira reação foi olhar para trás, na procura do atrevido, a fim de dar-lhe o maior fora que eu poderia imaginar. Preparei um olhar fuzilante, daqueles que gelariam até carvão em brasa, mas ao virar a cabeça, alguma coisa me fez mudar de ideia.

Foi uma voz interior que me disse “pra quê tanto mau humor? Leva na brincadeira”. Para falar com você dessa forma tem que ser muito corajoso”. “Releva”.

Baixei as armas e respondi com um sorriso meio, não, muito sem graça:

- Mil vezes não. Quem me dera!

Observando melhor, até que o cara era bonito. E tinha barba. Ah, barba é a minha perdição.

Mas... não podia ficar ali dando mole.

Paguei a conta e segui pela rua tentando descobrir para onde ele teria ido. Discretamente eu o procurava pensando “nunca mais verei esse cara”.

Guardei as compras no carro e preparava para partir, quando ele apareceu do nada, perguntou se eu era solteira e me deu seu telefone.

Fiquei pensando no quanto ele era cara de pau, atrevido. Pensava podia me cantar assim?

Telefonei no mesmo dia e a partir daí rolou uma linda história de duas pessoas que se conheceram no supermercado, se apaixonaram e deram grandes risadas lembrando da forma corajosa com que ele se aproximou, venceu o mau humor dela e de como as coisas acontecem onde menos se espera.